Há seis anos, o empreendedor Sidernei Karsten, 35 anos, decidiu correr atrás de um sonho: abrir uma fábrica de cerveja artesanal. Apaixonado pela bebida, viu nas aulas do Curso de Engenharia de Produção da Católica de Santa Catarina em Jaraguá do Sul a oportunidade de criar o plano de negócios que, mais tarde, o faria deixar o emprego de analista de custos em uma multinacional para fazer o que realmente gosta. E Side não está sozinho. Por razões parecidas, cada vez mais jovens brasileiros preferem empreender do que ocupar cargos em empresas já consolidadas.
É o que revela a pesquisa “Jovens Empresários Empreendedores – Valores, Crenças e Relação com o Trabalho”, realizada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), com 5.681 jovens de 25 a 35 anos de oito países, no ano passado. O estudo teve a parceria da TNS e foi conduzida em nove cidades do mundo: Rio de Janeiro, São Paulo, Berlim (Alemanha), Xangai (China), Madri (Espanha), Nova Iorque (Estados Unidos), Bombaim (Índia), Londres (Reino Unido) e Moscou (Rússia).
Uma das principais revelações é que os jovens brasileiros só ficam atrás dos indianos em interesse na abertura do próprio negócio. Enquanto no Brasil 68% dos entrevistados disseram que desejam se tornar empreendedores nos próximos anos, na Índia esse percentual foi de 69%.
O levantamento também procurou entender o que leva essa geração a querer empreender. Um dos principais motivos citados foi a vontade de realizar um sonho (76,4%), o que explica a aposta de Side e de tantos outros brasileiros que decidem deixar uma carreira estável para se aventurar no empreendedorismo. Entre as principais razões alegadas também estão: a busca por qualidade de vida, a exploração de uma oportunidade comercial, a vontade de não ter chefe e a liberdade de horários.
O professor de gestão empreendedora da Católica de Santa Catarina, Victor Alberto Danich, comenta que a popularização da Internet está entre os fatores que motivaram a criação de novos negócios nos últimos anos. Ele comenta que a possibilidade de prestar serviços sem precisar, necessariamente de um espaço físico, fez com que muitos jovens deixassem para trás a estrutura mais rígida do mundo corporativo para se dedicar a um estilo de negócios mais inovador.
A pesquisa da Firjam também destaca que a geração Y – da qual Side e os participantes do estudo fazem parte – tem uma tendência natural a empreender, graças à influência da tecnologia. Inquietos, esses jovens gostam de fazer muitas coisas ao mesmo tempo e resolvê-las de forma rápida, o que é possibilitado pela maior intimidade que têm com a tecnologia. Esse perfil profissional traz algumas características que, de forma geral, são mais acentuadas nos empreendedores.
“Pessoas com esse perfil tem o empreendedorismo em seu DNA. São profissionais visionários, dinâmicos, determinados e querem alguma coisa diferente. Com sua capacidade de planejar e tomar decisões, conseguem criar valor para a sociedade e, consequentemente, ganhar dinheiro com isso”, avalia Danich, também gestor no Núcleo de Inovação e Pesquisas Tecnológicas – JaraguaTec -, incubadora que apoia a criação de pequenos negócios para a geração de emprego e renda.
Hoje, Side só tem a comemorar a virada que a decisão de tornar-se empreendedor trouxe para a sua vida. A Cervejaria Karsten, que começou produzindo 800 litros por mês, já alcança a marca de 12 mil litros mensais da bebida. A distribuição é feita de forma exclusiva para delivery, eventos especiais e pontos de venda em Jaraguá do Sul e região. Recentemente, a fábrica, localizada no Bairro Três Rios do Sul, foi incluída pela Santa Catarina Turismo (Santur) na Rota das Cervejas, com outras 14 indicadas pela estatal.
“Vejo no empreendedorismo uma forma de fazer algo diferente e que oferece possibilidades que nem sempre a gente encontra sendo funcionário em uma empresa. Empreender é um caminho de incertezas e é preciso uma dedicação enorme para que o negócio dê certo. Mas é muito gratificante ver os frutos que você colheu com o seu esforço”, comenta.
Estímulo ao empreendedorismo
Uma outra pesquisa, produzida pela organização Endeavor Brasil em parceria com o Sebrae, em 2014, constatou que 57,9% dos alunos de universidades brasileiras pensam em abrir um negócio no futuro. Ciente dessa necessidade, a Católica de Santa Catarina promove uma série de ações para a formação de futuros empresários, como: apoio por meio de um núcleo de inovação tecnológica, inclusão de disciplinas voltadas ao empreendedorismo, compartilhamento de laboratórios e de acervo bibliográfico com a comunidade e a realização de visitas técnicas com os estudantes a empresas de referência.
Na unidade de Jaraguá do Sul, o Núcleo de Inovação e Pesquisas Tecnológicas – JaraguaTec oferece capacitações gratuitas às empresas incubadas, acesso facilitado aos laboratórios e às bibliotecas de instituições ligadas à tecnologia, e menor custo de utilização do espaço – já que o setor administrativo atende a todos os empreendimentos de forma compartilhada. A incubadora, anexa à Católica SC, abriga 14 empreendimentos que criam soluções tecnológicas para as empresas da região.
Desde o surgimento do JaraguaTec, em 2004, o núcleo já graduou 18 empresas, das quais 14 estão estruturadas no mercado. O número representa uma taxa de sobrevivência de 80%, índice três vezes maior do que o registrado pelas empresas comuns – segundo pesquisas do Sebrae, cerca de 70% dos pequenos negócios criados no mercado fecham as portas nos três primeiros anos, uma taxa de sobrevivência de apenas 30%. A maioria dos empreendimentos incubados atende aos segmentos de metal-mecânica e tecnologia da informação, focando nas áreas de robótica e eletrônica embarcada.
Para o professor do Curso de Engenharia de Produção da Católica SC em Jaraguá do Sul, Jerson Kitzberger, é fundamental que os estudantes sejam estimulados ao empreendedorismo ainda durante a graduação, para que tenham noção de como funciona uma empresa na prática antes de se formarem.
No curso de Engenharia de Produção, por exemplo, esse conhecimento é adquirido por meio de diversas atividades, como a realização de visitas técnicas a empresas de referência na região e de eventos relacionados ao universo empreendedor. Neste ano, a graduação também adotou as disciplinas de “Gestão Tecnológica e Inovação” e “Gestão Empreendedora”, em que os estudantes aprendem os conceitos de inovação e como aplicá-los em um plano para criação e análise de viabilidade de novos negócios.