Entre os alunos das universidades brasileiras, 57,9% pensam em abrir um negócio no futuro. Além disso, 11,2% já são empreendedores. Os números fazem parte da atualização da pesquisa Empreendedorismo nas Universidades, produzida pela organização Endeavor Brasil em parceria com o Sebrae, em 2014. Os dados indicam uma realidade: as universidades brasileiras precisam, necessariamente, pensar em ser mais empreendedoras.

Núcleo de inovação tecnológica, inclusão de disciplinas voltadas ao empreendedorismo, compartilhamento de laboratórios e de acervo bibliográfico com a comunidade e a realização de visitas técnicas com os estudantes a empresas de referência são algumas das ações adotadas pela Católica de Santa Catarina em Jaraguá do Sul para a formação de futuros empresários.

Para o gestor do JaraguaTec – Núcleo de Inovação e Pesquisas Tecnológicas, Victor Alberto Danich, também professor da disciplina de Empreendedorismo nos cursos de Administração e Engenharias, a adoção de programas voltados à criação de novos negócios é uma condição cada vez mais necessária às universidades brasileiras.

“O estudante precisa saber, antes mesmo de ingressar na instituição, que vai encontrar um ambiente de apoio para conseguir realizar o sonho de abrir a própria empresa”, destaca.  Danich reforça que é fundamental que as instituições de ensino se modernizem para acompanhar os novos tempos, em que os jovens estão cada vez mais interessados por empreendedorismo.

Entre os fatores que incentivaram o meio empresarial nos últimos anos, o professor cita a popularização da Internet – permitindo que vários empreendedores prestem serviços sem a necessidade de um espaço físico próprio -, a desburocratização do setor e o apoio de entidades e programas de incentivo aos empreendimentos de pequeno porte – como o Sebrae e o Programa Brasil Empreendedor, do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Segundo Danich, a crise econômica também tem estimulado a abertura de novos negócios, que se tornaram uma alternativa de renda para muitas pessoas que perderam o emprego. Pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2015, patrocinada pelo Sebrae e divulgada em fevereiro deste ano, mostra que, em 2015, a taxa de empreendedorismo no país foi de 39,3%, o maior índice dos últimos 14 anos e quase o dobro do registrado em 2002, quando a taxa era de 20,9%.

Suporte à geração de novos negócios

Em Jaraguá do Sul, o Núcleo de Inovação e Pesquisas Tecnológicas – JaraguaTec é uma das entidades que apoiam a criação de pequenos negócios para a geração de emprego e renda. A incubadora, anexa à Católica SC, abriga 14 empreendimentos que criam soluções tecnológicas para as empresas da região.

Entre os benefícios oferecidos estão as capacitações gratuitas às empresas incubadas, o acesso facilitado aos laboratórios e às bibliotecas de instituições ligadas à tecnologia, e o menor custo de utilização do espaço – já que o setor administrativo atende a todos os empreendimentos de forma compartilhada.

Desde o surgimento do JaraguaTec, em 2004, o núcleo já graduou 18 empresas, das quais 14 estão estruturadas no mercado. A maioria dos empreendimentos incubados atende aos segmentos de metal-mecânica e tecnologia da informação, focando nas áreas de robótica e eletrônica embarcada.

Outra ação realizada pela Católica SC é a atualização constante das matrizes curriculares dos cursos de Administração e Engenharia de Produção, com a inclusão de disciplinas que focam em demandas específicas do universo empreendedor.

O curso de Engenharia de Produção, por exemplo, adotará, a partir de 2017, as disciplinas de “Gestão Tecnológica e Inovação” e “Gestão Empreendedora”, em que os estudantes aprendem os conceitos de inovação e como aplicá-los em um plano para criação e análise de viabilidade de novos negócios.

No currículo do Curso de Administração, além do conteúdo já voltado ao empreendedorismo, a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) também é direcionada à abertura de novos negócios. Durante três semestres, os alunos trabalham em grupo todas as etapas necessárias para a criação de uma empresa, o que estimula os alunos a pensarem como empreendedores.

Empresa alimentícia exporta para as principais capitais do país

Os estudantes do curso de Engenharia de Produção da Católica de Santa Catarina em Jaraguá do Sul, João Paulo Alves e Thiago Roger Machado, conseguiram abrir o próprio negócio ainda durante a graduação. Em 2011, eles fundaram a empresa de alimentos Voitila, especializada na produção de batatas recheadas congeladas para micro-ondas de forma artesanal e sem conservantes.

João Paulo Alves conta que o negócio começou como uma forma de reforçar o orçamento da família. “Minha mãe tinha uma lanchonete e, nos fins de semana, ela, meu irmão e eu produzíamos as batatas e congelávamos para vender durante a semana, conforme os pedidos. Como não havia esse produto no mercado, decidi abrir uma fábrica focada em batatas recheadas para supermercados”. Depois de alguns meses, convidei meu atual sócio para vir trabalhar comigo”, relembra.

De um pequeno negócio familiar, a Voitila tornou-se o maior empreendimento do ramo na região. Hoje, o mix de produtos inclui dois sabores de batatas recheadas, panqueca de carne e quatro variações de strudel. Em 2014, a empresa passou a atender o Walmart – maior rede de varejo do mundo -, que distribui o produto para as principais capitais do país: Salvador (BA), Maceió (AL),  Recife (PE),  Natal (RN), Fortaleza (CE), Vitória (ES), Brasília (DF), Goiânia (GO), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).

De acordo com João, a constante troca de experiências com os professores da Instituição e a pertinência dos conteúdos lecionados durante o curso foram fundamentais para o crescimento da Voitila. “Quando temos dúvidas sobre como melhorar o desempenho do negócio, conversamos com os professores, que são profissionais de mercado experientes e estão sempre à disposição para nos ensinar”, comenta. O empreendedor também destaca que o apoio do Sebrae foi muito importante para que ele e Thiago aprimorassem as receitas e ampliassem o mix de produtos.

Os sócios estão na fase final da graduação e costumam apresentar o case da Voitila aos estudantes da Instituição, incentivando-os a correrem atrás dos seus sonhos. “Compartilhar experiências é uma forma de contagiarmos quem está a nossa volta e melhorar a sociedade”, avalia João.

No próximo ano, com a previsão de melhora no cenário econômico, um dos planos da Voitila é exportar as batatas recheadas para o mercado americano.

 

O estudante de Engenharia de Produção João Paulo Alves é um dos fundadores da Voitila, que atende a maior rede de varejo do mundo

O estudante de Engenharia de Produção João Paulo Alves é um dos fundadores da Voitila, que atende a maior rede de varejo do mundo