Quem assistiu ao filme “De Volta Para o Futuro 2”, de 1989, deve lembrar de como a história retratava o ano de 2015: a viagem de Marty McFly ao futuro apresentava um cenário em que carros voadores e tecnologia holográfica eram algo comum.
Estamos na metade de 2015 e muita coisa da trilogia ainda não se concretizou. Mas evoluções que pareciam ficção na década de 1980 já fazem parte do cotidiano de muitas pessoas e têm até um nome próprio: Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês). E essa tendência é tão promissora que o governo federal trabalha na elaboração de uma política específica para o setor, por meio de uma câmara de gestão que reúne representantes do governo e da iniciativa privada.
O escopo preliminar do projeto foi anunciado no dia 23 de junho pelo secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, Maximiliano Martinhão, durante o Fórum Regional de IoT, organizado pela multinacional americana Cisco Systems, no Rio de Janeiro. Até o final deste ano, a câmara deve apresentar um plano para nortear a implementação da IoT no País, além de coordenar o processo para fomentar a pesquisa, o desenvolvimento e a geração de novas empresas no setor.
Internet das Coisas (ou Internet of Things, no original em inglês) é o termo usado para definir dispositivos físicos ou virtuais conectados à Internet. O professor do Curso de Sistemas de Informação da Católica de Santa Catarina, Manfred Heil Júnior, explica que este conceito já está presente em itens do nosso vestuário sem que a gente perceba. É o caso dos relógios e tênis que enviam dados como o número de passos, calorias gastas e até a qualidade do sono do usuário.
Segundo o professor, pesquisa realizada pela multinacional Cisco Systems mostra que as empresas de tecnologia apostam cada vez mais nesse setor. Conforme o levantamento, em abril de 2014 havia 12,1 bilhões de dispositivos integrados à Internet no mundo. A previsão é que, em 2020, cerca de 50 bilhões de dispositivos estarão presentes em casas, carros, eletrodomésticos, roupas e outros itens do cotidiano.
Manfred destaca que o Curso de Sistemas de Informação da Católica SC já desenvolve sistemas de controle e coleta de dados em dispositivos através da Internet, usando técnicas aplicadas na Internet das Coisas. Exemplo disso é o desenvolvimento de um projeto de sensoriamento de máquinas agrícolas, para medir umidade, temperatura, conforto acústico e outros fatores nos tratores da fabricante New Holland.
O projeto, pioneiro no Brasil, foi desenvolvido em parceria entre a Católica SC e a Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Um longo caminho a percorrer
O professor Glauco Vinicius Scheffel, também do Curso de Sistemas de Informação da Católica SC, avalia que, mesmo com a crescente aplicação da técnica baseada no conceito de Internet das Coisas na fabricação dos mais diversos produtos, isso não significa, necessariamente, que ela será popularizada de forma rápida.
Glauco cita um levantamento recente da consultoria Gartner Group, que indica que a Internet das Coisas deve levar de cinco a dez anos para atingir o auge de sua produtividade em relação ao desenvolvimento de soluções ligadas à rede. Para o professor, o resultado desse estudo mostra que a IoT ainda tem um “longo caminho a percorrer” até que se torne mais comum no cotidiano da população mundial.
“Também temos de lembrar que é normal a nova tecnologia conviver com a velha durante muito tempo. Exemplo disso é que ainda usamos ventiladores, mesmo tendo à disposição tecnologias bem mais modernas para resfriar ambientes. Ou seja, a curva de adoção a esses dispositivos disponíveis pode vir a ser bem longa”, avalia.