Viajar cerca de seis mil quilômetros para conhecer um país que quase nunca se ouve falar, com uma das maiores taxas de analfabetismo do mundo e um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta não é o tipo de programa que a maioria das pessoas gostaria de fazer nas férias. Mas, para a professora do Curso de Engenharia Civil da Católica de Santa Catarina em Jaraguá do Sul, Fernanda Aparecida João dos Anjos, ver de perto a realidade da pequena Burkina Faso, na África Oriental, foi uma oportunidade de aliar novos conhecimentos com a prática da solidariedade – fazendo, assim, a diferença na vida de quem mais precisa.
Burkina Faso possui 16,3 milhões de pessoas e um território de 274.200 km², um pouco maior que o estado de São Paulo. O destino da professora Fernanda e do marido, o engenheiro mecânico Jeferson Luiz dos Anjos, foi a cidade de Bobo-Diolasso, a 350 quilômetros da capital, Uagadugu. Com 600 mil habitantes, a segunda maior cidade do país enfrenta um grave problema social que também acontece no restante do continente: a de crianças que vivem em condições análogas à escravidão.
Mas é também em Bobo-Diolasso que funciona um projeto social que, todos os dias, dá apoio e esperança para centenas desses meninos. Há quatro anos, o casal de joinvilenses Simone Goedert Fernandes e Roberto Fernandes fundaram o Centro de Assistência à Formação Integral (Cafi). O projeto, mantido com doações de brasileiros, oferece cursos profissionalizantes para jovens e mulheres de baixa renda, além de atender crianças vítimas de exploração com comida, assistência médica e recreação.
As vidas de Fernanda e Jeferson se cruzaram com as de Simone e Roberto no final de 2016, quando os fundadores do Cafi foram divulgar o trabalho da ONG em Joinville, numa comunidade evangélica que Fernanda e o marido costumam frequentar. Eles gostaram da iniciativa e Fernanda decidiu fazer, voluntariamente, o projeto arquitetônico e executivo da nova sede.
Durante as férias de julho, a professora e o marido conheceram a atual sede do projeto em Bobo-Diolasso, fizeram uma análise visual do terreno, avaliaram os materiais de construção que serão utilizados e visitaram uma fábrica de tijolos local. Fernanda precisou fazer essa avaliação antes do projeto arquitetônico porque os materiais de construção utilizados em Burkina Faso têm pesos e espessuras diferentes dos que são usados no Brasil. “No Brasil, o tijolo vazado, que é o mais usado nas construções, pesa até três quilos. Em Burkina Faso, o tipo de tijolo com preço mais acessível e que será usado no novo prédio, é maciço e pesa 11 quilos”, exemplifica Fernanda.
Durante a permanência de dez dias no país, a docente diz que algumas situações chamaram sua atenção; na parte profissional, as construções pequenas e a ausência de prédios; e, na parte pessoal, a desigualdade social evidente contrastando com a receptividade dos moradores – que, em meio a tantas dificuldades, encontram motivos para serem gentis com as pessoas que vêm de fora.
“Me sinto feliz de fazer parte de um projeto que ajuda tanta gente. Ser voluntário em alguma causa social pode parecer algo pequeno para nós, mas faz uma diferença enorme na vida de quem precisa”, comenta.
Entidade busca ampliar os atendimentos
O terreno para a nova sede do Cafi, de 10 mil metros quadrados, foi comprado com doações da comunidade brasileira. O fundador da ONG, Roberto Fernandes, diz que, com o passar do tempo, o espaço foi ficando pequeno para tantos atendimentos e, por isso, era hora de pensar em um lugar maior.
A expectativa é que o lugar comece a ser construído no ano que vem. Inicialmente, o projeto prevê um pavimento para alojamento, refeitório, sala de reuniões e administração, além de uma estrutura para sediar os sete cursos oferecidos: alfabetização de adultos, foto e filmagem, marcenaria, informática, robótica, artesanato e música.
No ano passado, o centro atendeu 19.260 meninos vítimas de exploração – conhecidos como talibês ou garibous – com serviços emergenciais, que incluem comida, corte de cabelo, curativos, tratamento médico e recreação. Além disso, cerca de 100 jovens e mulheres em situação de vulnerabilidade social participam das capacitações a cada semana. No momento, também há 40 crianças abrigadas em duas casas alugadas pela ONG, recebendo apoio integral do CAFI.
Estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que mais de 2 milhões de crianças vivam em condições análogas à escravidão na África. A coordenadora do Cafi conta que, por causa da pobreza, muitas famílias entregam os filhos homens a líderes religiosos, que prometem dar aos garibous melhores condições de vida. Mas, na realidade, as crianças vivem em condições subumanas, sendo obrigadas a mendigar e a entregar o que ganham aos dirigentes, além de sofrerem agressões quando não atingem a quantia mínima estipulada.
“É muito comum os garibous chegarem ao Cafi machucados ou com doenças como malária e desinteria, por causa da falta de banho e de cuidados com a higiene pessoal”, conta Simone.
Quem quiser ajudar a instituição com doações pode entrar em contato pelo e-mail cafibrasil@gmail.com ou pelo WhatsApp 226 77039681. Outras informações sobre a ONG podem ser obtidas na fan page https://www.facebook.com/cafi.burkinafaso.