Elemento marcante da presença de imigrantes europeus responsáveis por processos colonizatórios principalmente na região Sul do Brasil, usado como adorno nas residências, o “wandschoner”(ou panos protetores de paredes) é destaque de exposição que estará aberta à visitação no Museu Wolfgang Weege, no Parque Malwee, a partir desta quinta-feira, dia 16.

Até o dia 17 de julho, a comunidade poderá apreciar na mostra “Bordando memória” peças comuns da época da imigração européia em Jaraguá do Sul. A visitação é de graça e pode ser feita de segunda a sexta-feira, das 10 às 12h e das 13 às 17h; e aos sábados e domingo, das 9h30 às 12h e das 13h30 às 17h. O museu está localizado à Rua Wolfgang Weege, 770, telefone (47) 3376-0114.

A exposição é uma iniciativa dos acadêmicos da terceira fase do curso de Moda como resultado de um projeto de pesquisa idealizado para melhor compreender uma determinada época, seus valores, seus mitos, seus ritos, sua visão de mundo principalmente das primeiras décadas do século 20. A história do wanschoner, panos utilizados como protetores de paredes, foi aplicada na segunda fase do curso de Moda do Centro Universitário – Católica de Santa Catarina no segundo semestre de 2010 sob a orientação da professora Mariza Rama e coordenado pela professora Marisa Tensini Kaufmann.

Inicialmente os acadêmicos aprenderam conceitos, conheceram o wandschoner e suas várias utilidades, pesquisaram entre a população feminina acima de 60 anos de Jaraguá do Sul a existência dos wandschoner nas casas de suas famílias. Solicitaram às entrevistadas a descrição e a utilidade destes panos, o que diziam as inscrições, os tipos de bordado, os pontos usados para bordar, as cores e as línguas em que as mensagens eram escritas.

Ao resgatar os objetos históricos dos imigrantes europeus, usados na cidade de Jaraguá do Sul por meio dos bordados e mensagens, confirmou-se a identidade das pessoas da cidade. Na sequência, os acadêmicos aprenderam a bordar pontos simples de bordado para poder confeccionar uma releitura dos protetores de parede, desenvolvendo a criatividade por meio do design e do bordado. A meta era promover uma exposição destes protetores de parede para sensibilizar as pessoas de Jaraguá do Sul  reavivando a memória histórica.

Ao pesquisar os wandschoner ou panos protetores de parede usados nas casas de Jaraguá do Sul foi constado que eles protegeram e enfeitaram as paredes destas casas até uma parte das primeiras décadas do século XX. Pode-se afirmar também que estes wandschoner não foram apenas um elemento de decoração interior, mas que eles transmitiram mensagens de sabedoria, alegraram as visitas e serviram para esconder os panos sujos da cozinha.

Os wanschoner encontrados em Jaraguá do Sul e região eram confeccionados com um retalho de tecido de algodão ou linho. Nas casas mais abastadas eram bordados em ponto de cruz com linhas em tons de azul. As imagens em geral eram de livros e histórias infantis europeus, geralmente holandeses. Outros panos encontrados foram pacientemente bordados a mão, ora recebendo matizes coloridos, ora apresentando efeitos monocromáticos. Em outros, imagens de crianças, jovens frequentemente representados em atividades, revelam uma visão de mundo que valoriza o trabalho e solicita benções divinas.

Geralmente os wandschoner eram colocados na parede da cozinha em cima do caixão de lenha, ou serviam para esconder os panos de mão ou de louça, ou eram organizados em conjuntos de várias peças que continham bordados combinados. O porta-alho e o porta-fósforos aparecem em alguns conjuntos e não contém mensagens. Nas entrevistas com senhoras desta cidade e da região foi afirmado que todas conheciam os wandschoner e que eles haviam feito parte de sua vida na infância ou adolescência na casa de suas mães, avós ou tias.  Todos tinham imagens e a grande maioria vinha escrito temas religiosos ou da vida cotidiana, como “Jesus está conosco!”,  “Paz, união e fé!”, “Hoje estamos rezando com Jesus!”, “Nosso pão de cada dia!”, “Bom Dia!”, “Boa Noite!”, “Durma Bem!”, “Venha Sempre!”, “Seja bem-vindo!”, “Dizem que nas estrelas está escrito: A pessoa deve acreditar na esperança e amor!”, entre outros.

Os wandschoner da região são símbolos de desejos de proteção e benção divina a fim de suprir os anseios de uma vida melhor. Os wanschoner com escritos em alemão ou italiano são mais difíceis de encontrar segundo algumas entrevistadas, por terem sido eliminados durante a ditadura do presidente Getúlio Vargas, quando o Brasil entrou na II Guerra Mundial. Ao todo foram executados 27 releituras de wandschoners que junto aos panos de parede originais formarão a coletânea da exposição.