Até o dia 9, segunda-feira, a comunidade pode apreciar no espaço cultural da Biblioteca Padre Elemar Scheid, no câmpus Jaraguá do Centro Universitário – Católica de Santa Catarina, a exposição “Bordando memórias”. O projeto apresenta a história dos “wandschoner” – ou panos protetores de parede – comuns na época da imigração européia em Jaraguá do Sul. A exposição é uma iniciativa dos acadêmicos da terceira fase do curso de Moda e pode ser visitado gratuitamente das 8 às 22 horas. A biblioteca está localizada a Rua dos Imigrantes, 500, Vila Rau. Informações pelos telefones (47) 3275-8253 e 3275-8233.

“Bordando memórias” é um projeto de pesquisa idealizado para melhor compreender uma determinada época, seus valores, seus mitos, seus ritos, sua visão de mundo principalmente das primeiras décadas do século 20.

A história do wanschoner, panos utilizados como protetores de paredes, foi aplicado na segunda fase do curso de Moda do Centro Universitário – Católica de Santa Catarina no segundo semestre de 2010 e foi orientado pela professora Mariza Rama e coordenado pela professora Marisa Tensini Kaufmann.

Inicialmente os acadêmicos aprenderam conceitos, conheceram o wandschoner e suas várias utilidades, pesquisaram entre a população feminina acima de 60 anos de Jaraguá do Sul a existência dos wandschoner nas casas de suas famílias. Solicitaram às entrevistadas a descrição e a utilidade destes panos, o que diziam as inscrições, os tipos de bordado, os pontos usados para bordar, as cores e as línguas em que as mensagens eram escritas.

Ao resgatar os objetos históricos dos imigrantes europeus, usados na cidade de Jaraguá do Sul por meio dos bordados e mensagens, confirmou-se a identidade das pessoas da cidade. Na sequência, os acadêmicos aprenderam a bordar pontos simples de bordado para poder confeccionar uma releitura dos protetores de parede, desenvolvendo a criatividade por meio do design e do bordado. A meta era promover uma exposição destes protetores de parede para sensibilizar as pessoas de Jaraguá do Sul  reavivando a memória histórica.

Ao pesquisar os wandschoner ou panos protetores de parede usados nas casas de Jaraguá do Sul foi constado que eles protegeram e enfeitaram as paredes destas casas até uma parte das primeiras décadas do século XX. Pode-se afirmar também que estes wandschoner não foram apenas um elemento de decoração interior, mas que eles transmitiram mensagens de sabedoria, alegraram as visitas e serviram para esconder os panos sujos da cozinha.

Os wanschoner encontrados em Jaraguá do Sul e região eram confeccionados com um retalho de tecido de algodão ou linho. Nas casas mais abastadas eram bordados em ponto de cruz com linhas em tons de azul. As imagens em geral eram de livros e histórias infantis europeus, geralmente holandeses. Outros panos encontrados foram pacientemente bordados a mão, ora recebendo matizes coloridos, ora apresentando efeitos monocromáticos. Em outros, imagens de crianças, jovens frequentemente representados em atividades, revelam uma visão de mundo que valoriza o trabalho e solicita benções divinas.

Geralmente os wandschoner eram colocados na parede da cozinha em cima do caixão de lenha, ou serviam para esconder os panos de mão ou de louça, ou  eram organizados em conjuntos de várias peças que continham bordados combinados. O porta alho e porta fósforos aparecem em alguns conjuntos e não contém mensagens.  Nas entrevistas com senhoras  desta cidade e da região foi afirmado que todas conheciam os wandschoner e que eles haviam feito parte de sua vida na infância ou adolescência na casa de suas mães, avós ou tias.  Todos tinham imagens e a grande maioria vinha escrito  temas religiosos ou da vida cotidiana, assim como:. Jesus está conosco!  Paz, união e fé!- Hoje estamos rezando com Jesus!  Nosso pão de cada dia! Bom Dia! Boa Noite! Durma Bem! Venha Sempre! Seja bem-vindo! Dizem que nas estrelas está escrito: A pessoa deve acreditar na esperança e amor! Inden sternen steht geschrieben der mensch sollglauben, hoffen lieben! Hetsligh will Kommen, e outros.

Os wandschoner da região são símbolos de desejos de proteção e benção divina a fim de suprir os anseios de uma vida melhor. Os wanschoner com escritos em alemão ou italiano são mais difíceis de encontrar segundo algumas entrevistadas, por terem sido eliminados  durante a ditadura de Vargas, quando o Brasil entrou na II Guerra Mundial.  Ao todo foram executados 27 releituras de Wandschoners  que junto aos panos de parede originais formarão a coletânea da exposição.