Um dos maiores desafios de um profissional é colocar em prática as lições que aprendeu nas aulas da faculdade. Uma pesquisa feita pela Endeavor e pelo Sebrae, em 2014, com cinco mil alunos e mais de 600 professores em todo o país, revela que 58% dos universitários entrevistados indicaram pensar em empreender no futuro. Apesar do grande número de estudantes interessados em abrir o próprio negócio, o estudo mostra que a maioria não se prepara para empreender.

O levantamento também revela que apenas 14,1% dos pesquisados gastam tempo aprendendo a iniciar um novo negócio. Outro resultado que deixa a desejar é o baixo nível de dedicação para empreender: apenas 20% dos estudantes afirmaram que se sentem muito confiantes para abrir o próprio negócio. Diante dessa realidade, como fazer com que os estudantes adquiram o conhecimento necessário para se tornarem empreendedores?

O professor do Curso de Administração da Católica de Santa Catarina, Gelásio Carlini, destaca que só é possível ter uma noção real dos desafios do mundo dos negócios sabendo como o mercado funciona. “O momento certo de fazer isso é quando o aluno ainda está estudando, pois, se errar, vai aprender a tempo de evitar que o erro se repita quando abrir a própria empresa”, comenta.

Para estimular o empreendedorismo e promover o contato com o mercado de forma aprofundada, a Católica SC resolveu levar para dentro da sala de aula o desafio de montar e gerir um negócio. Durante o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), os alunos de Administração têm o desafio de criar um estudo de viabilidade de uma empresa da região. Por três semestres, os estudantes trabalham em grupo todas as etapas necessárias para a criação de um empreendimento.

O professor Gelásio, também coordenador do TCC, reforça que a iniciativa estimula os alunos a pensarem como empreendedores. “A disciplina atrela a teoria aprendida em sala de aula durante toda a faculdade à realidade empresarial. Essa experiência faz com que eles estejam preparados para enfrentar desafios que não são encontrados nos livros, mas somente no dia a dia da profissão”, acrescenta.

Conheça, a seguir, dois projetos para implantar empresas sustentáveis e inéditas em Jaraguá do Sul propostos por acadêmicas da Instituição.

Serviço garante destinação correta ao lixo hospitalar

Pensando na preservação do meio ambiente e na saúde das pessoas, as acadêmicas Dérli Andriélli Martinello, Karoline Koehler, Letícia Alves dos Anjos e Priscila Balsanelli apresentaram uma proposta para implantar uma empresa que realizasse o gerenciamento completo do lixo hospitalar em Jaraguá do Sul.

O serviço incluiria coleta, transporte, tratamento e a destinação correta dos resíduos, atendendo em um formato que ainda não existe no município. Hoje, os detritos gerados na cidade são coletados por uma empresa que possui licitação com a Prefeitura e realiza a coleta de todos os tipos de lixo, desde os orgânicos até os de saúde. Os entulhos são transportados para uma estação de transbordo em Chapecó, onde são retirados por outra empresa que fará o tratamento final.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo grupo, a região de Jaraguá do Sul tem 239 estabelecimentos privados que geram lixo hospitalar, como três grandes hospitais, clínicas médicas, odontológicas e de estética, laboratórios, pet shops, ambulatórios de empresas, estúdios de tatuagem e piercing e farmácias.

O principal diferencial da “Sprava – Soluções de Resíduos de Saúde” é que a empresa faria o treinamento dos funcionários dos estabelecimentos para separar o lixo corretamente. Karoline explica que existem vários tipos de resíduos hospitalares e a legislação determina que eles sejam classificados de acordo com a substância responsável pela contaminação.  Assim, é possível saber com mais clareza quais materiais serão incinerados e o que será tratado para ser depositado no aterro.

“Constatamos que seria viável implantar na cidade uma empresa de gerenciamento de lixo hospitalar. Aplicamos 128 questionários presencialmente nos estabelecimentos e 98% dos entrevistados afirmaram que contratariam ou que talvez contratariam o serviço”, comenta. A Sprava cobraria R$ 10,50 por quilo de lixo coletado e R$ 80,00 a taxa de coleta. O investimento inicial previsto para implantar a empresa seria de R$ 455 mil. O serviço contaria com uma equipe de oito funcionários.

Uma pesquisa realizada em pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), constatou que os municípios coletaram e destinaram 237,6 mil toneladas de resíduos de saúde, das quais 40% têm destino inadequado. O estudo “Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2011” também revelou que 12% dos detritos vão para o lixão, sendo depositados sobre o solo sem tratamento prévio. Além de contaminar o meio ambiente, esse problema traz um risco muito grave para as pessoas que tiram seu sustento desses locais.

Proposta das acadêmicas prevê o gerenciamento completo do lixo hospitalar em Jaraguá do Sul

Proposta das acadêmicas prevê o gerenciamento completo do lixo hospitalar em Jaraguá do Sul

 

 

 

 

 

 

 

 

Locação de bicicletas elétricas contribui com a sustentabilidade

Aproveitando que as discussões sobre a mobilidade estão em alta, as acadêmicas Andressa Maira Heller, Andressa Taíse Tribess, Carine Mayer, Gabriela Xavier dos Santos e Sofia Lessmann Cardoso realizaram um estudo sobre a possibilidade de uma empresa de locação de bicicletas elétricas em Jaraguá do Sul. A proposta ajudaria a evitar os engarrafamentos em horários de pico e a não poluir o meio ambiente.

A ideia seria instalar dois pontos de locação de bicicletas: no Centro, perto do Jaraguá do Sul Park Shopping, e na Barra do Rio Cerro, próximo ao Parque Malwee. A pesquisa considerou fatores como a quantidade de ciclovias e ciclofaixas existentes em Jaraguá do Sul, o número de pessoas que utilizam a bicicleta para se locomover, demografia e as oportunidades e ameaças ao negócio, que foram avaliadas em cinco áreas: econômica, natural, tecnológica, político-legal e sociocultural.

Para saber se o negócio é viável, o grupo fez diversas pesquisas, incluindo a aplicação de um questionário com a participação de 415 pessoas, e entrevistas com especialistas em mobilidade urbana, donos de lojas de bicicletas elétricas e dez jaraguaenses que se locomovem de carro, ônibus e bicicleta. A equipe também visitou uma empresa de locação de bicicletas elétricas em Balneário Camboriú, já que no Norte de Santa Catarina não existe nenhum empreendimento do gênero.

A equipe percebeu que a bicicleta está presente no cotidiano da população, mas que, culturalmente, as pessoas ainda têm por hábito se locomover de carro. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Jourdan em 2011 constatou que 4,76% dos jaraguaenses utilizava a bicicleta como meio de locomoção. Em 2012, um levantamento feito por acadêmicos da Católica SC apontou que o índice era de 11,40%.

A acadêmica Carine destaca que o uso da bicicleta poderia aumentar com a interligação dos espaços destinados ao ciclista entre o Centro e os bairros. Hoje, a cidade conta com 45,32 quilômetros de ciclofaixas e 5,86 quilômetros de ciclovias. “Elas atendem de forma total o centro da cidade, mas a falta de conexões com os bairros dificulta uma locomoção mais sustentável”, comenta.

Com a proposta de ser sustentável, a E-bike Jaraguá teria a estrutura formada por contêiners. O custo inicial de implantação seria de R$ 225 mil, incluindo 23 bicicletas. O valor do aluguel de uma bicicleta elétrica seria de R$ 24,00 por uma hora, R$ 48,00 por duas horas e R$ 60,00 para o dia todo.

A equipe constatou que a implantação de uma empresa de locação de bicicletas elétricas, além de ser viável economicamente, poderia contribuir com o turismo da região. “45,8% dos entrevistados disseram que locariam a bicicleta para diversão e lazer. Dessa forma, percebemos que, mesmo Jaraguá do Sul não tendo foco turístico, as pessoas gostariam de aproveitar as bikes para esta finalidade”, avalia Carine.

Pontos de locação de bicicletas elétricas ajudariam a evitar os engarrafamentos em horários de pico e a não poluir o meio ambiente

Pontos de locação de bicicletas elétricas ajudariam a evitar os engarrafamentos em horários de pico e a não poluir o meio ambiente