Imagine a seguinte situação: uma pessoa com diabetes machuca o pé caminhando, mas não sente nada na hora. Com o passar do tempo, o ferimento que parecia inofensivo começa a ficar pior e dá lugar a uma infecção, que se alastra. Quando chega ao hospital, descobre que a única alternativa é amputar o membro.
Pode parecer absurdo um simples machucado chegar a esse ponto, mas não é. Segundo o Grupo de Trabalho Internacional para o Pé Diabético, o quadro descrito acima é a causa número 1 de amputações não traumáticas no país. Ainda de acordo com a organização, um caso de amputação do membro ocorre no mundo a cada 20 segundos por falta de cuidados adequados com a doença.
Ajudar a evitar que os portadores de diabetes passem por esse sofrimento é o objetivo do aplicativo “Meu Pé”, que está sendo desenvolvido pelos acadêmicos do 8º semestre do Curso de Sistemas de Informação da Católica de Santa Catarina, Eduardo Mauricio Barbiero, 22 anos (que estuda na unidade de Joinville), e Douglas Wille, 21 (que frequenta a unidade de Jaraguá do Sul).
A proposta, em fase de finalização, tem o objetivo de prevenir a amputação do pé em diabéticos, por meio da análise do membro do paciente. O programa traz um questionário em que o usuário responde como está o pé dele hoje, selecionando uma opção entre as sensações sugeridas: inchado, vermelho, quente, com calos, com feridas, pálido, gelado, doloroso, sem sensibilidade ou deformado.
Em seguida, responde se já amputou um dos pés ou se já teve feridas. Caso não tenha amputado, o usuário tira uma foto do pé e, após uma análise, o programa traz sugestões ou cuidados que ele precisa tomar conforme o grau de risco de amputação, como: evitar andar descalço, usar calçado ortopédico ou procurar um médico imediatamente. O aplicativo também mandará ao paciente lembretes periódicos sugerindo que ele faça nova avaliação via celular. Também manterá um histórico desses dados para que o usuário acompanhe se a doença piorou, regrediu ou estabilizou.
“É um trauma imenso quando a doença evoluiu ao ponto do paciente precisar amputar o pé, pois isso impacta diretamente na sua vida. O aplicativo é uma forma da pessoa reforçar os cuidados e ficar atenta aos sintomas que indicam o grau de risco de perda do membro”, explica Douglas.
A parte de consultoria médica do aplicativo é feita pela ortopedista Bárbara Pupim, que idealizou o projeto junto com os estudantes. Ela destaca que os aplicativos sobre pé diabético disponibilizados hoje no mercado são voltados para ajudar os médicos a identificarem o problema, mas que faltava uma tecnologia que auxiliasse os diabéticos a acompanharem a própria doença.
“Como a proposta do aplicativo é usar uma linguagem bem simples, é uma forma bem fácil e acessível do paciente perceber as mudanças no pé e também de conscientizar as pessoas sobre a doença, os sintomas que apresenta e os cuidados necessários para o seu controle adequado”, avalia Bárbara
Futuramente, os dados armazenados também poderão ajudar os municípios a mapear as regiões com maior incidência de pé diabético, para traçar futuras políticas de prevenção junto aos órgãos públicos.
O “Meu Pé” deve começar a ser utilizado de forma experimental por pacientes diabéticos em março de 2018 e ficará em fase de testes por cerca de seis meses. A previsão é de que o aplicativo seja lançado no segundo semestre do ano que vem, quando ficará disponível gratuitamente no Google Play e na Apple Store, para usuários de celulares Android e iOS.
Ideia premiada recebe apoio de incubadora tecnológica
A ideia de criar um aplicativo para prevenir a amputação do pé diabético surgiu durante o Hackaton Oxigenar 2016, realizado em dezembro do ano passado, em Joinville. A proposta de Douglas, Eduardo, Bárbara e do empreendedor Maiquel Robert Mafra foi considerada a melhor entre todas as apresentadas e a equipe sagrou-se campeã do evento.
Com a vitória no Hackaton, o projeto foi pré-aprovado no Inovapark, incubadora de Joinville que oferece suporte e orientação para a prática de ideias tecnológicas que podem gerar produtos, processos ou serviços inovadores. O aplicativo também foi tema dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) dos dois acadêmicos. Douglas apresentou o estudo no início deste mês e Eduardo passará pela banca em fevereiro. Os dois trabalhos têm a orientação do professor Glauco Vinícius Scheffel.
Quem tiver interesse em ser investidor do aplicativo pode entrar em contato com Maiquel, pelo telefone (47) 99971-5750 ou pelo e-mail maiquel.mafra@gmail.com ou com Bárbara, pelo telefone (47) 98848-1139 ou pelo e-mail barbarapupim@gmail.com.
Sobre o diabetes
– O diabetes é uma doença caracterizada pela elevação da glicose no sangue (hiperglicemia). É um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e entupimento de artérias, especialmente das pernas e pés, além de formação de aneurismas — dilatação de um vaso sanguíneo.
– O diabetes é uma das principais causas de morte no mundo. Em todo o planeta, 250 milhões de pessoas possuem a doença; no Brasil, cerca de 17 milhões de brasileiros sofrem com esse mal – 8,9% da população
– O número de brasileiros diagnosticados com diabetes cresceu 61,8% nos últimos 10 anos, passando de 5,5% da população em 2006 para 8,9% em 2016
– As mulheres registram mais diagnósticos da doença – o grupo passou de 6,3% para 9,9% no período, contra índices de 4,6% e 7,8% registrados entre os homens
– O indicador de diabetes aumenta com a idade e é quase três vezes maior entre os que têm menor escolaridade. O maior registro é na população com 65 anos ou mais, que apresenta índice de 27,2%.
– Um estilo de vida saudável dificulta o aparecimento dos males que podem prejudicar o coração
Fontes: Pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde (2017) e Organização Mundial de Saúde (2017)