No universo feminino, o esmalte deixou de ser apenas um cosmético e tornou-se um acessório poderoso, que deve combinar com o estilo da mulher. Mas, ao mesmo tempo que a atividade de pintar as unhas é sinônimo de vaidade e autoestima, também é uma ameaça ao meio ambiente. Todos os anos, milhões de vidros de esmalte são descartados no lixo comum depois que o produto acaba ou quando o prazo de validade expira. Afinal, qual é a forma de descarte correto desse material?
Essa pergunta virou tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da acadêmica do 10º semestre do Curso de Engenharia de Produção da Católica de Santa Catarina em Jaraguá do Sul, Ana Maria Schmitz Leite. O resultado foi a criação de um projeto inédito para reaproveitar os frascos de esmalte usados. A proposta é implantar uma empresa para processar o vidro, as tampas de plástico e as cerdas que compõem a embalagem. Assim, todo o material poderia ser reutilizado.
O trabalho teve a orientação do professor Jerson Kitzberger. Ana entrevistou proprietários de dez salões de beleza de Jaraguá do Sul, 78 consumidoras, empresas de coleta de lixo, laboratórios e fabricantes de esmalte. E descobriu que mesmo as marcas mais famosas do produto não promovem ações específicas para reciclar as embalagens.
“É necessário uma maior conscientização por parte das fabricantes para buscar a destinação correta, apesar de o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estar em vigor no Brasil desde 2010”, comenta. O PNRS prevê a redução de produção de resíduos sólidos, o reaproveitamento e a disposição correta de lixo reciclável.
Segundo pesquisa realizada pela acadêmica, em Jaraguá do Sul existem cerca de 70 salões de beleza registrados, sendo que cada um descarta, em média, 11 frascos por mês. Isso equivale a 770 vidros de esmalte jogados fora todos os meses e 9.240 por ano.
Calcula-se que a média de frascos descartados na cidade, incluindo-se o consumo fora dos salões de beleza, seja de 43.484 embalagens por mês. O levantamento foi feito com base em indicadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), considerando a faixa etária de mulheres que mais costuma pintar as unhas.
Empresas da região têm interesse em reaproveitar material processado
A primeira etapa do estudo focou na forma correta de descontaminação do vidro, que precisa estar totalmente limpo para ser reciclado. Através de testes em laboratório, constatou-se que a limpeza pode ser feita usando acetona pura – um solvente altamente inflamável diferente da acetona diluída usada para remover esmalte.
Outra etapa seria a implantação de postos de coleta do material em salões de beleza, lojas de cosméticos e shopping center. Um caminhão da coleta seletiva faria o recolhimento semanalmente ou de acordo com a demanda. O material seria armazenado em caixas de plástico específicas e encaminhado ao local de processamento.
Em seguida, Ana produziu o layout para implantação da empresa de processamento. O vidro seria limpo, triturado e vendido para uma empresa do município de Tijucas, e as tampas de plástico para uma fábrica de Joinville. As cerdas seriam doadas para grupos de artesanato de Jaraguá do Sul e a composição química retirada dos frascos, descartada como resíduo perigoso por uma empresa especializada da cidade. Para evitar o descarte da acetona no meio ambiente, ela seria aquecida para vaporizar e, em seguida, condensada para retornar ao ciclo produtivo, possibilitando assim a sua reutilização na unidade de processamento.
“Acredito que, em trabalhos futuros, pode ser feita uma análise de viabilidade econômica da unidade de processamento proposta neste TCC. Como a quantidade de resíduos sólidos gerados pela sociedade aumenta a cada dia, é impossível não se preocupar com a sustentabilidade e o futuro do planeta”, destaca.
Para professor, consumidor deve ser orientado sobre o descarte adequado
Entre os conceitos introduzidos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), vigente desde 2010, está a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, através da logística reversa. A logística reversa é um conjunto de ações a serem implantadas pelo setor empresarial e os órgãos públicos para a destinação final ambientalmente adequada dos produtos no final do seu ciclo de vida.
O orientador do TCC, Jerson Kitzberger, também professor da disciplina de Logística do Curso de Engenharia de Produção, destaca a importância do consumidor final saber como fazer o descarte correto dos produtos que não são mais utilizados.
“Algumas categorias de produtos já são recolhidas normalmente através da coleta seletiva. Mas há materiais que as pessoas nem sempre sabem como dar a destinação adequada, como roupas e calçados danificados, artigos de perfumaria e eletrodomésticos – geladeira, fogão, ar-condicionado, entre outros”, avalia. Entre os itens mais perigosos para o meio ambiente e à saúde, o professor cita pilhas, lâmpadas, remédios, embalagens de agrotóxicos, baterias e pneus.
De acordo com Kitzberger, tanto o fabricante quando o comércio têm a responsabilidade de orientar o cliente sobre o assunto. “O consumidor deveria ser orientado no ato da compra sobre o que fazer quando a mercadoria não tiver mais uso. A responsabilidade não se encerra na venda, e sim no fim do ciclo de vida do produto”, ensina.
Kitzberger destaca que o trabalho da acadêmica Ana Maria Schmitz Leite respalda a preocupação do Curso de Engenharia de Produção da Católica SC com a solução de problemas que impactam na sociedade.